sábado, 10 de janeiro de 2015

A função do epíteto na poesia homérica


(Imagem: Wikipedia)

Embora encontremos algumas traduções em prosa, a poesia homérica no original grego é em verso e metrificada. O nome do metro utilizado é hexâmetro dactílico cataléctico. Hexâmetro, porque são seis pés, cada um composto por um sílaba longa e duas breves (o grego tem sílabas longas e breves, e vogais longas e breves; a duração de uma sílaba breve seria a de um tempo musical, e a de uma sílaba longa, de dois tempos musicais); dactílico, porque a base desse verso é o ritmo tripartido (como os nossos dedos, que possuem três partes, “dáctilo”); cataléctico porque o ritmo básico é sempre interrompido no último pé (ou seja, o último pé tem apenas uma longa e uma breve, ou duas longas, mas nunca uma longa e duas breves).
Durante muito tempo, as pesquisas sobre Homero admitiam que a Ilíada e a Odisseia eram poemas compostos oralmente, mas o modo de composição oral não era levado em conta na hora de analisar os poemas. As repetições e os epítetos não raro eram (e ainda são) suprimidos ou atenuados pelos tradutores, como se fossem falhas e não partes integrantes do estilo. O trabalho do estudioso Milman Parry, publicado em 1928, deu um passo importantíssimo para a compreensão da marca da oralidade no estilo de Homero.

Parry provou que a poesia homérica é um sistema formular funcional e prático, que trabalha com “blocos pré-fabricados”. Esse sistema é formular porque há expressões, “blocos”, que se repetem: por exemplo, para dizer “Odisseu”, em uma determinada extensão métrica, em uma determinada posição do verso, há uma determinada fórmula (geralmente composta por nome e epíteto; por exemplo, “o divino Odisseu”, em fim de verso). Funcional e prático, porque econômico: há, em geral, apenas um epíteto para se referir a cada personagem em cada extensão métrica, com raros casos de sobreposição. A economia do sistema garante sua praticidade e funcionalidade, pois o poeta não precisava escolher entre várias opções de fórmulas e epítetos – o que poderia, talvez, prejudicar a fluência da recitação. Assim, as fórmulas eram essenciais para o sucesso da composição oral, uma vez que facilitavam, e muito, o trabalho do aedo/ rapsodo. 

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